As zoonoses são doenças naturalmente transmitidas pelos animais aos seres humanos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem mais de 200 tipos de zoonoses e aproximadamente 60% das doenças humanas são originadas dos animais.
Entre as zoonoses de importância na bovinocultura de leite, destacam-se a brucelose e a tuberculose. É importante destacar que o Brasil tem o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT), e que é proibido pela legislação brasileira, a captação de leite de fazendas que tenham animais positivos para estas doenças. Dada a importância destas zoonoses, neste texto iremos tratar sobre a importância e o impacto da brucelose na atividade leiteira e no próximo mês, abordaremos os aspectos importantes ligados à tuberculose.
A brucelose, doença causada por Brucella abortus, é uma das mais importantes e negligenciadas zoonoses. Nos animais, a doença se caracteriza principalmente por abortos, nascimentos prematuros e infertilidade, a qual reduz a produção de leite (Santos et al. 2013).
A doença é transmitida aos humanos por meio do contato com secreções que contêm a bactéria, como restos placentários, fetos abortados ou pelo consumo de leite de animais infectados, de produtos lácteos contaminados como queijo, manteiga e sorvetes e de carne mal passada ou crua. Acidente durante a aplicação de vacinas também é uma forma frequente de contaminação (Secretaria da Saúde do Paraná).
Os sintomas iniciais da doença no homem incluem dores de cabeça e na nuca, febre alta e intermitente, cansaço e fadiga. Após duas ou três semanas, a doença pode piorar e atacar articulações ou o sistema nervoso central, causando neurastenia, depressão, insônia, impotência sexual (Embrapa, 2018).
Em relação à saúde pública, a brucelose impacta muito a população humana, principalmente nas áreas rurais onde a exposição à bactéria é maior (Diniz et al., 2021). O aumento da exposição humana à brucelose é consequência de uma alta taxa de infecção no rebanho. Há relatos de 21% de ocorrência em que pelo menos um indivíduo apresentou resultado positivo no teste sorológico para brucelose (Homem et al., 2016).
Neste mesmo estudo, também foi observada uma taxa de 52% de ocorrência de brucelose bovina. Isso significa que a população humana nessas regiões rurais, com altas taxas de ocorrência de brucelose bovina, corre o risco de alta exposição ao patógeno, mesmo que as notificações da doença em humanos sejam raras, devido aos sintomas clínicos inespecíficos da infecção.
Em 2013, a brucelose no Brasil gerou um prejuízo estimado em R$1,005 bilhão, em que cada fêmea adulta positiva representou um prejuízo de R$473,50 em rebanhos leiteiros. Acredita-se ainda, que os valores de perdas possam ser ainda maiores, uma vez que o valor atribuído aos animais ao nascer no Brasil, é baixo, e, portanto, prejuízos decorrentes de abortos e mortalidade perinatal devem ser maiores (Possa etal., 2021).
A estimativa das perdas econômicas causadas pela brucelose por vaca leiteira infectada no Brasil é maior do que R$ 420,12 (Clementino; Azevedo, 2016). Em 2021, estudo realizado em Santa Catarina demonstrou perdas econômicas de R$1.843,49 por animal positivo (Possa et al., 2021).
O impacto de Brucella sobre a produção, a saúde do homem e a segurança do alimento está descrito no Quadro 1. Embora ela possa ser facilmente prevenida pela vacinação das bezerras de 3 a 8 meses de idade e ainda pela restrição de compra e introdução de animais de outros rebanhos sem diagnóstico prévio, a doença afeta a saúde do homem, dos animais e causa grandes prejuízos no bolso do produtor.
É preciso lembrar que leite de animais não vacinados contra Brucella pode representar riscos para a saúde e causar prejuízos. Prevenir é essencial e toda bezerra deve ser vacinada aos 3-8 meses de idade. Se ligue produtor e vacine já!
Publicado por: Renato Alves