Antibiótico: Consequências Pelo Uso imprudente e Desnecessário

Os antibióticos são medicamentos muito importantes para o tratamento de doenças no homem e nos animais. Para que eles sejam eficientes na eliminação das infecções, é preciso usá-los de forma responsável e prudente. Por outro lado, quando os utilizamos sem critérios e desnecessariamente, sérias consequências podem ocorrer por afetar a saúde única, ou seja, a saúde do homem, dos animais e do meio ambiente. Grandes prejuízos para os produtores e indústrias de laticínios também podem acontecer e a indústria de laticínios não pode utilizar, em hipótese alguma, leite contendo resíduos de antibióticos.

Com o uso indiscriminado e desnecessário de antibióticos nas vacas, o risco de veiculação de resíduos destes medicamentos aumenta. A ingestão de leite com resíduos de antibióticos pode ter várias consequências, especialmente relacionadas à saúde e à resistência microbiana. Os riscos à saúde decorrem por: a) reações alérgicas ou tóxicas por ingestão deste leite com resíduos pelos consumidores; b) impacto na resistência microbiana.

O uso indiscriminado de antibióticos no tratamento das vacas pode resultar em resíduos no leite. O consumo de leite com esses resíduos pode contribuir para o desenvolvimento de resistência microbiana, tornando os antibióticos menos eficazes no tratamento de infecções. Com isto, populações de bactérias altamente resistentes podem surgir, tornando os tratamentos ineficazes. Isto acontece tanto no tratamento de doenças do homem e dos animais e um exemplo, no caso de vacas leiteiras, é o insucesso no tratamento de mastite clínica. Várias bactérias como, por exemplo, Staphylococcus aureus tem se tornado resistente ou multirresistente aos antibióticos. Com isto, o tratamento não funciona e os prejuízos são maiores pelo risco de contaminação de outros animais por esta bactéria, o que aumenta a CCS do leite.

A resistência microbiana ocorre quando microrganismos, como por exemplo, as bactérias se tornam resistentes à ação de medicamentos antimicrobianos, como os antibióticos. Isso compromete a eficácia do tratamento e pode levar a consequências graves como: a) dificuldade no combate à infecção: os antibióticos normalmente utilizados no tratamento deixam de ser eficazes e isto torna o combate à infecção mais difícil e demorado; b) piora no quadro clínico: a resistência bacteriana pode resultar em piora no estado de saúde do paciente (homem ou animal) e ainda comprometer o sucesso de cirurgias ou quimioterapia pela ausência de antibióticos que sejam eficazes.

Precisamos entender que a resistência microbiana representa uma ameaça global à saúde pública, exigindo ações coordenadas para preservar a eficácia dos medicamentos e proteger a saúde única. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2023), estima-se que: a) a resistência microbiana foi responsável por 1,27 milhão de mortes globais em 2019 e que contribuiu para 4,95 milhões de mortes; b) o uso indevido e excessivo de antimicrobianos em humanos, animais e plantas são os principais impulsionadores no desenvolvimento de patógenos resistentes a medicamentos; c) além da morte e da invalidez, a resistência pode resultar em custos adicionais de saúde de 1 trilhão de dólares até 2050 e segundo O’Neil (2016), se nada for feito, ocorrerão 10 milhões de mortes por ano devido à resistência em 2050. O problema é sério e precisamos refletir.

Portanto, o uso irresponsável de antibióticos na produção de leite pode ter consequências significativas também para a indústria de laticínios. No caso dos produtores, as perdas decorrem dos gastos com medicamentos e mão-de-obra e do descarte do leite. A indústria perde por não poder utilizar esse leite no processamento tecnológico e por ter que incinerar todo leite do caminhão positivo para resíduo de antibiótico. O leite positivo de uma fazenda contamina o leite de todos os outros produtores no compartimento deste caminhão e o prejuízo é ainda maior. Assim, além do sério problema de saúde pública, o uso imprudente e desnecessário aumenta os riscos de veiculação e as perdas econômicas.

Para evitar estes problemas, é preciso usar os antibióticos somente quando necessário e sob a orientação de um médico veterinário. Estamos falando de uso racional e ainda do uso de ferramentas para a tomada de decisões. Adotar o programa de Boas Práticas Agropecuárias com foco em garantir a saúde animal é primordial. Quando necessário e no caso de tratamento de mastite clínica, por exemplo, é muito importante realizar a cultura microbiológica tradicional em laboratório ou na fazenda. Ela permite identificar se há presença de alguma bactéria e se realmente é preciso usar o antibiótico.

Com o uso da cultura, pode-se reduzir em 50 a 60% o uso de antibióticos na fazenda. Isto leva a economia e reduz o risco de aumento da resistência microbiana. Quando tratarmos, não podemos nos esquecer de seguir o protocolo MRST (Marcar as vacas tratadas, Registrar os tratamentos, Separar as vacas tratadas e Tratar os animais seguindo as orientações da bula, descartando o leite de toda vaca de acordo com o período de carência do medicamento.

Portanto, fique atento Produtor! Procure orientação técnica e use o antibiótico apenas quando for realmente necessário. Do seu uso consciente, depende a garantia da saúde única e da produção de leite seguro!

Postado por: Renato Alves

Autor:
Professora Titular da Escola de Veterinária da UFMG. Parceira da CCPR no Programa Tudo Nos Conformes.

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