A Carroça – Causos da Roça

Todo mundo se lembra, quando o ex-presidente Fernando Collor chamou os automóveis brasileiros de “carroças”, em razão do baixo índice de tecnologia que os mesmos traziam e, para corrigir tal deficiência, deu início ao processo de importação de veículos.

Naquele tempo, andar de carro importado era privilégio de poucos brasileiros, por causa dos elevados impostos e taxas de importação. Mesmo os automóveis fabricados no País eram difíceis de se comprar. As listas de espera nas concessionárias eram enormes.

Eu gostava de comprar carros novos, alguns de consórcios, outros financiados, como forma de investimento. Quando surgiram os importados, que vieram concorrer com as “carroças”, eu fui a uma agência de um amigo e adquiri um sedan clássico, de fabricação russa, da marca Lada.

No trajeto da agência até minha casa, achei o carro horrível, muito pior do que as carroças que eu possuía, um Uno, uma Parati e um Gol.

Em todo caso, eu não pretendia mesmo usar aquilo, minha intenção era vendê-lo a um desavisado de plantão.

Logo depois daquela aquisição, o governo lançou um “plano econômico”, que visava combater a hiperinflação da época e, dentre outras medidas, bloqueou os ativos financeiros depositados em bancos, inclusive os saldos de poupança que superassem uma faixa determinada.

Com isso, os brasileiros ficaram praticamente sem dinheiro e era rico quem possuísse bens duráveis. O mercado passou a utilizar
o processo de trocas, já que não havia numerário em espécie.

Então, decidi adquirir um apartamento em Belo Horizonte, onde eu morava. Procurei nos classificados de jornais e encontrei uma pessoa que se dispunha a trocar um imóvel que me atendia por veículos.

O negócio foi feito, troquei meus carros pelo apartamento do meu sonho. O vendedor do imóvel morava em Ipatinga/MG. Depois de fechada a troca, fui até aquela cidade da região central de Minas, dirigindo o Lada, enquanto os compradores, marido e mulher, levaram os outros carros.

Chegamos ao destino à noite e, percebi, então, que os faróis do russo estavam acessos. Isso me fez pensar que era alta tecnologia, inexistente no Brasil na época, acendimento automático.

Aí, veio o vexame. Ao chegar na casa dos compradores, guardei o possante na garagem e não consegui encontrar um meio de apagar os faróis. Chamei o Luciano, o dono da casa e, agora, do carro, e ele também não conseguiu resolver o problema, embora fosse engenheiro eletricista.

Resultado, adotamos a solução mais simples, desconectamos o cabo da bateria e fomos dormir. No dia seguinte, saí cedo. Nunca mais voltei lá para saber se encontraram o interruptor.

Por: Estáquio Márcio de Oliveira

Publicado por: Renato Alves

📰✨ Jornalista, editora do jornal Cooperabaeté desde setembro de 1998. 🗞️🖊️

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


× Atendimento online