No meu tempo de jovem estudante em Abaeté, sem redes sociais, os costumes eram bem mais conservadores do que os atuais. Era comum ouvir programas musicais pelo rádio, principalmente, de emissoras do Rio de Janeiro e São Paulo. Todos nós sabíamos na ponta da língua as dez músicas mais tocadas na semana nas principais capitais do País. Quase todos gostavam ler ou ouvir as previsões do horóscopo. As meninas costumavam portar caderninhos com capas coloridas, onde registravam entrevistas feitas com os meninos. Claro, nos finais de semana, havia as horas dançantes, abrilhantadas pela música mecânica das radiolas que tocavam discos antigos de vinil.
Foi nesse cenário que decidi lançar a notícia de que concluíra um curso de astrologia, com especialização em construir o “mapa astral” das pessoas. O objetivo era apenas brincar, porque eu não acreditava nisso. Fiquei surpreso com a grande repercussão da notícia. Minha agenda ficou cheia. Todas as meninas queriam falar comigo, pedir uma consulta, um mapa astral ou a minha “opinião abalizada” sobre o seu futuro amoroso.
Claro, li muito sobre o assunto e percebi que o segredo é não particularizar as respostas, nem estabelecer prazos certos para as realizações. Por um tempo, deu certo. Mas teve uma cliente que estava muito desesperançada, porque a pessoa por quem ela nutria uma paixão secreta nem parecia notar a sua presença.
Dentro do meu propósito de agradar, sem me comprometer muito, eu aconselhei a moça a ter mais confiança em si, porque os astros apontavam que o amor dela seria correspondido. Ela acreditou nisso como se fosse um recado.
À noite, na hora dançante, a moça se aproximou de mim, me convidou para dançar e, de repente, tascou um beijo em mim. Antes que eu pudesse reagir, fez uma grande declaração de amor. Não foi fácil desfazer esse terrível equívoco. Fiquei desacreditado como astrólogo.
Por: Eustáqui Márcio de Oliveira
Publicado por: Renato Alves