O João da Dona era um demente que tinha perdido pai e mãe e vivia perambulando na região de Santa Cruz. Ele dormia nos paióis e comia quando davam algum alimento pra ele. Passava o dia inteirinho no meio do mato, juntando gravetinhos como o Tonho do Zé Juca, e colocando debaixo dos paus. Ele tinha umas tiradas boas e costumava pegar as coisas dos outros sem maldade.
Uma vez, ele chegou na fazenda do Cássio do Zé de Oliveira, de madrugadinha. Cachorro nenhum latia com ele, parece que já conheciam. Ele achou um alicate de brincar bezerras e passou a mão naquilo, como se nada fosse, por bobagem mesmo.
Passou uns dois dias, o Valter, que trabalhava para o Cássio, foi fechar uns bezerros pra colocar o brinco. Procurou esse alicate pra todo lado e ficou muito contrariado quando não achou. Na roça, naqueles tempos, ninguém mexia em nada de ninguém.
Na época, ele levava o leite lá no ponto, que ficava perto da venda do Tonho Maria. Ele subiu e ficou conversando com o Ildeu. Contou que tinha perdido o alicate, e o Ildeu disse que viu o João da Dona com um parecido.
Passado uns dias, o Valter encontrou o João e perguntou pela ferramenta. O João negou de tudo quanto é jeito. O Valter largou pra lá.
Uns tempos depois, João estava sentado debaixo de uma árvore fazendo aqueles montinhos de gravetos, o Valter viu e foi lá ver se ele queria comida. Olhou em volta e viu o alicate de brincar bezerros no chão.
– Uai, João, a ferramenta que eu falei com você e você falou que não tinha pegado lá em casa é essa! É esse trem ai beirando os gravetos que eu to caçando.
– Não, Zé, cê tá enganado. Isso aqui é um filhote de avião. Eu peguei ele porque ele não tá dando conta de voar direito. Eu tô pelejando com ele pra ver se ele cresce pra voar.
– Ah, certo. Então você me devolve ele que eu acabo de tratar dele lá em casa. Quando ele tiver no ponto de voar, ele voa lá de casa mesmo.
– Uai, sendo assim, pode pegar. Só assim o João devolveu o alicate e o Valter pode brincar as bezerras…
Por: Guilherme Mendes
Publicado por: Renato Alves