Uma grande diversão do nosso tempo de criança era quando os circos vinham para Abaeté, com seus palhaços, malabaristas, bailarinas e animais. Eles eram montados nos lotes vagos da cidade e sempre geravam um grande alvoroço na cidade.
Uma vez, montaram um circo nos lotes que haviam onde hoje é a Secretaria Municipal de Saúde e o Samu, em frente ao Quartel da Polícia Militar. E era daqueles circos com muitos animais: leão, elefante, macaco.
Estávamos naquela região, quando vimos um senhorzinho que vinha do Bicué com a charrete carregada de lenha. Quando ele chegou na esquina anterior da delegacia, um rapaz foi logo avisando:
– Se eu fosse o senhor, não passava na frente do circo não, porque lá tem um leão, que tá rugindo demais da conta. É cada urro lá que esse seu cavalo vai assustar e vai fazer arte.
O senhorzinho respondeu:
– Não, sô. Cavalo meu não assusta com leão não. Ele nunca viu um leão na frente dele! Como é que ele vai assustar com o leão?
E seguiu direto, em direção ao circo O leão estava enjaulado e, quando viu o cavalo passando, deu um rugido daqueles que podiam ser ouvidos a oito quilômetros de distância, pra defender mesmo o território e espantar qualquer intruso.
Esse cavalo assustou tanto que saiu a mil por hora com a charrete. Naquele tempo, não tinha asfalto, nem calçamento ali. Era rua de terra, com mais buraco que na lua.
O cavalo disparou daquele jeito em direção à Avenida Joaquina do Pompéu, e você só via lenha caindo de um lado, caindo do outro. De repente, o senhorzinho também caiu da charrete.
E o cavalo só parou mesmo quando chegou na avenida, e só com o cabeçalho da charrete. Tudo o mais ficou pra trás: a mesa da charrete, a lenha e o velho teimoso.
De lá pra cá, esse cavalo não podia escutar nada parecido com o rugido do leão que ficava louco. E o senhorzinho, além de perder a lenha e a charrete, ficou com a perna quebrada.
Por: Rogério Lage de Oliveira
Publicado por: Renato Alves