Por muitos anos, sabemos dos benefícios da realização da contagem de células somáticas e da cultura microbiológica do leite para a tomada de decisões na fazenda e controle da mastite. Em relação à cultura microbiológica, são realizadas duas práticas: a radicional, geralmente feita em laboratórios, e a denominada cultura na fazenda. Esta última tem sido amplamente utilizada em vários países do mundo há bastante tempo, e é mais recente no Brasil.
O que o produtor ganha com a realização da cultura na fazenda? Trata-se uma prática simples, que pode ser implantada após treinamento e orientação técnica, para identificar os microrganismos envolvidos na mastite clínica e também subclínica. Ao identificarmos os microrganismos envolvidos, por exemplo, nos casos de mastite clínica, podemos tomar decisões com mais segurança sobre tratar ou não as vacas.
Podemos dizer que a cultura na fazenda é um forte aliado no uso racional e prudente de antibióticos e de outros antimicrobianos. A partir do resultado observado em 24 horas, pode nem ser necessário usar antibiótico. Isso ainda tem um efeito importante na redução da resistência antimicrobiana pelo uso abusivo e irracional destes medicamentos.
Ao identificar um caso clínico de mastite e realizar a cultura, podemos ter três resultados: negativo, positivo (com crescimento de bactéria), ou resultado que indica contaminação da amostra, quando há três bactérias ou mais identificadas. Precisamos saber interpretar os resultados e a figura abaixo pode nos ajudar.
No caso de resultado negativo, não vamos tratar com antibiótico, porque nenhuma bactéria cresceu na placa. Isso significa que talvez a vaca tenha tido uma infecção, mas conseguiu combater a bactéria que estava causando a mastite. Portanto, não temos que tratar com
antibiótico.
Quando há crescimento de bactérias na placa, ou seja, resultado positivo, é preciso saber quem está causando a mastite. Para algumas bactérias, não há necessidade de tratar com antibiótico, porque há grande chance de a vaca ter cura espontânea, sem precisar desse
medicamento. É o caso de resultado positivo com um grupo específico de bactérias chamadas de Gram negativas.
Já para o resultado positivo, com crescimento de um grupo de bactérias que chamamos de Gram positivas, podemos precisar tratar com antibiótico. Para uma avaliação segura, é importante consultar um veterinário, para nos orientar corretamente.
Para o tratamento com antibiótico, é importante avaliar o resultado da cultura, ou seja, a bactéria que cresceu e ainda consultar o veterinário para definir o melhor protocolo. Quando há crescimento de três bactérias ou mais na placa, significa que houve contaminação, que os resultados estão prejudicados e que não dá para considerar porque posso ter tido problema, inclusive, na coleta.
Com o uso racional e responsável, o produtor reduz muito o risco de ter antibiótico no seu leite e perder dinheiro. Por exemplo, um resultado positivo de antibiótico em um mês representa a perda do volume de dois dias de produção, considerando a coleta a cada 48 horas.
A cultura na fazenda pode ser empregada também nos casos de mastite subclínica para identificar bactérias altamente contagiosas, como Streptococcus agalactiae e Staphylococcus aureus. A cultura é uma ferramenta importante para a identificação e controle destas
bactérias, o que reduz a CCS do leite do tanque. Com menor CCS, o produtor reduz as perdas na produção de leite e ainda ganha bonificação no pagamento por qualidade.
O que os números da cultura na fazenda nos mostram? Em 2020, uma das maiores empresas do mercado, que disponibiliza meios para a cultura na fazenda, avaliou o impacto na redução de uso de antibióticos no tratamento de mastite clínica. Foram avaliados 77.146 casos de mastite clínica e os resultados das fazendas que usam a cultura na fazenda podem ser observados na figura abaixo:
É importante destacar que a cultura na fazenda é uma ferramenta para nos ajudar no diagnóstico e na tomada de decisão, mas precisamos implementar medidas corretas de manejo para reduzir as taxas de mastite. Mais uma vez, precisamos prevenir a ocorrência de mastite e, se precisar tratar as vacas, implementar o SISTEMA MRST, ou seja, Marcar, Registrar, Separar e Tratar as vacas, seguindo todas as recomendações da bula.
Portanto, a cultura microbiológica pode fazer a diferença no bolso do produtor e na qualidade do leite. Usando menos antibiótico, teremos menor gasto com medicamentos, menos leite descartado e menos risco de antibiótico no leite do tanque!
Publicado por: Renato Alves