Negócios do Seu Boneco – Causos da Roça

Meu avô, José Pereira dos Santos, que todo mundo chamava de Boneco, era um fazendeiro e negociante pra lá de velhaco. Com aquela prosa mansa, ninguém ganhava dele numa rodada de negócios.

Eu não esqueço uma vez que ele estava vendendo um gado para o Tomé.

Tomé chegou na fazenda, viu o gado e falou:

– Oh, seu Boneco. Eu compro seu gado com 30 dias de prazo. Pode ser?

– Pode, respondeu meu avô. Negociaram a taxa dos juros e, quando estavam quase fechando o negócio, o Tomé falou:

– Seu Boneco, eu vou ficar com o gado do senhor pelo preço que o senhor quer, mas, se eu precisar de mais 30 dias, o senhor me dá e eu pago os juros dos outros 30. Ficam 30 dias sem juros e 30 dias com juros. Pode ser?

– Pode ser, tá combinado. O Tomé também era um bom negociante, se deu bem com o gado. Quando venceu o prazo dos primeiros 30 dias, ele voltou lá na fazenda e disse.

– Oh, seu Boneco, eu vim cá acertar com o senhor, porque eu vendi o gado à vista e então dá pra pagar o nosso negócio.

Ele virou pra mim e falou assim:

– Zé, pega a letra lá e faz a conta dos juros.

Tomé retrucou:

– Não, seu Boneco, não tem juros não. Eu vou pagar com os 30 dias sem juros.

Sabe o que meu avô respondeu?

– Não, mas eu dei sem juros foi o derradeiro mês, sô. O primeiro você tem que pagar.

E nada, nenhum argumento fez seu Boneco rever a negociação.

Por: José Pereira Ribeiro (Zé Bonequinho)

📰✨ Jornalista, editora do jornal Cooperabaeté desde setembro de 1998. 🗞️🖊️

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Popup será fechado em 20 segundos

× Atendimento online