Histórias dos Primeiros Cooperados – Causos da Roça

Quando foi fundada a Cooperativa de Produção, nós levávamos o leite até a plataforma em cima do cavalo, porque não tinha transporte. O leite era tão pouco, que cabia em duas latinhas. Tudo no início é muito difícil, e nós tínhamos que pagar uma porcentagem para manter as despesas da Cooperativa.

Uma vez, recebemos um comunicado do Dr. Melo, dizendo que, além dos descontos, teríamos que pagar mais cinco dias de leite, porque a situação estava muito difícil.

Um vizinho meu pegou a folha do leite e ficou nervoso demais quando viu o desconto. Começou a reclamar: “Isso é um roubo! Tiram a nossa porcentagem e ainda querem descontar mais cinco dias.”

Ele foi lá na Cooperativa e chamou a atenção do Dr. Melo. Como o Dr. Melo era muito esperto, perguntou assim:

– Senhor, qual gado é o seu?
– Meu gado é gir, ele respondeu.
– O senhor tira leite desse gado gir e traz para a Cooperativa?
– É, uai, pois é o que eu tenho.

Com muito bom humor, o Dr. Melo disse:

– Então não tem importância a Cooperativa tirar do senhor não, porque o senhor também está roubando dos bezerros. A vaca gir dá leite só pelo bezerro. O senhor rouba o leite deles lá e vem vender para nós.

Esse produtor voltou, abriu a porteira do curral e falou:

“Não tiro mais leite, vou deixar pra esses bezerros. Já que é deles mesmo, deixa eles mamarem”.

Mas como a condição financeira era difícil, dez dias depois ele voltou a matutar: “Mas sem esse dinheirinho do leite como é que eu vou sobreviver? Vou voltar a tirar leite outra vez e dar lá pra Cooperativa!”. E assim foi por muitos anos, até ele falecer.

*Publicado no Jornal Cooperabaeté em Novembro 2009.

Por: João César da Cunha Lemos (João Singué)

Publicado por: Renato Alves

📰✨ Jornalista, editora do jornal Cooperabaeté desde setembro de 1998. 🗞️🖊️

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