A Vingança do Zezé do Zuíno – Causos da Roça

Esse é um caso verídico mesmo. Aconteceu em Patos do Abaeté, quando eu era menino.

Naquela época, o futebol de roça era famoso demais, movimentava todos os povoados e despertava muita paixão nos jogadores, nos torcedores, na população em geral.

Eu me lembro que estava tendo um campeonato regional rural, e o time de Patos se preparava para enfrentar o de Poções. O clima era tenso porque, no primeiro jogo, em Poções, Patos tinha perdido de três a zero e, se não revertesse o placar, estaria fora da disputa.

O campo de futebol de Patos era de terra, de frente à igreja, e estava com as traves dos gols muito ruins. Hoje, nem existe mais esse campo.

O treinador do time, Dinho do Zuíno, pediu ao irmão dele, o Zezé do Zuíno, para ir lá no mato do Ildeu Brasinha buscar umas traves. O Zezé era daqueles apaixonados pelo futebol. Mas como era ruim demais de bola, sempre jogava no cascudinho, o time dos meninos. Era tão ruim que, mesmo sendo mais velho, ficava sempre como reserva no cascudinho.

Pra convencer o irmão a fazer o serviço, o Dinho do Zuíno prometeu ao Zezé que, se ele buscasse aquelas traves, ia jogar no time titular no próximo domingo.

É que esse não era um trabalho muito fácil de se fazer. Essas traves são pesadas, têm que ser de madeira verde, devem dar uns sete metros de comprimento cada uma.

Entusiasmado com a promessa, esse homem passou a mão no machado, saiu cedo de casa e, por volta do meio dia, chegou no campo com uma trave, os ombros feridos de carregar aquela madeira pesada por quase dois quilômetros. Jogou lá e voltou pra trás. Ele estava tão cansado que só cortou a outra trave e deixou para buscar no outro dia cedo.

Na manhã seguinte, ele voltou ao mato, buscou a trave, arrumou direitinho os gols. E ficou contando as horas para o grande jogo de futebol.

Domingo de manhã, chegou a embaixada de Poções com um caminhão cheio de jogadores e torcedores. O Dinho estava com medo demais do time porque, se perdesse, estaria fora do campeonato.

Nesse tempo, a escalação saía na hora do jogo, o técnico jogava a camisa para cada jogador titular. E o Zezé não recebeu camisa. Começou a ficar contrariado com aquilo e foi logo perguntando:

– Oh, Dinho, que negócio é esse? Eu busquei as traves, você falou que eu ia jogar e me deixou de fora?

Mas como ele era ruim de bola demais da conta mesmo, o Dinho falou:

– Não, fique tranquilo. Você vai jogar. Eu vou só experimentar o time deles e você entra no segundo tempo.

Acabou o primeiro tempo, o time dos Patos perdia de dois a zero. O Dinho já estava descabelando.

Começou o segundo tempo, nada de camisa para o Zezé do Zuíno.

O que ele fez? Foi em casa nervoso demais da conta, buscou um machado e, de um golpe só, com uma força que ninguém imaginava, cortou a trave rente ao solo.

Acabou com o jogo. E ai de quem experimentasse tomar o machado dele. Pela fúria do Zezé, ninguém teve coragem nem de tentar fazer isso…

Por: Rogério Lage

📰✨ Jornalista, editora do jornal Cooperabaeté desde setembro de 1998. 🗞️🖊️

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