Goleada no Interior – Causos da Roça

Publicado no Jornal Cooperabaeté, em dezembro de 2010.

Oi pessoal. Hoje vou contar pra vocês alguns lances de uma partida de futebol disputada no interior do nosso município, no lugar conhecido como Farinha Podre, lá por volta de 1.950.

Como é de conhecimento de todos, o futebol é praticado em nosso Abaeté muito antes dessa época. Os povoados e os vilarejos também já ostentavam suas equipes, promovendo campeonatos, torneios e amistosos. No entanto, vale lembrar que muitas coisas mudaram daquela época para os dias de hoje. As regras, a arbitragem, os uniformes, as bolas, apitos e, sobretudo, a maneira de jogar.

Para se ter uma idéia, a bola era feita de bexiga de porco, curtida com sebo de carneiro e outros produtos para fortalecê-la e dar-lhe um pouco de peso. Depois de cheia, amarrava-se um cordão em sua extremidade e já estava prontinha para o espetáculo.

Os uniformes eram calças normais, com cinto e tudo. As camisas eram de panos com colarinhos, algibeiras e botões. As chuteiras eram as próprias botinas usadas para o trabalho. Os árbitros atuavam com um chapéu e revólver na cintura para garantir a disciplina. A arma era o tira teima. As traves não tinham redes e o campo era marcado com cinza. Portanto, muito diferente de hoje.

Bola rolando, a Farinha Podre era o time da casa e enfrentava um equipe da beira do Rio Indaiá. Partida muito difícil para ambas as partes, bastante disputada. Nos instantes finais, ainda estava no zero a zero quando pinta um escanteio a favor da Farinha Podre.

Zé Preto, zagueirão do time da casa, medindo um metro e noventa de altura, muito forte, rápido, resolve partir para o ataque. O ponteiro direito cobra o escanteio e a bola sobe muito por causa do vento que a joga para fora da grande área. Aí surge o Zé Preto correndo muito e mata a bola no peito.

Quando ele percebe, o cordãozinho da bola havia prendido no botão mais alto de sua camisa. Ele não perdoa. Dispara para a área, desviando dos adversários, com a bola presa ao peito, entra no gol e grita… é uuuuuuuum. Dá meia volta, entra no gol e grita… é dooooois. Dá outra meia volta, passa de novo dentro do gol e grita… é treeeeeis. Por último, ele prende o braço ao poste do gol e girando em torno dele, continua contando seu gols.

Quando ele gritou dezesseeeeete, levou um galho de árvore na cabeça, aplicado por torcedores rivais, pondo fim à goleada. Nunca se viu antes tantos gols em tão pouco tempo. Principalmente marcados por um zagueiro.

Por: Jairo Andrade (Parceiro) – In Memorian

 

 

📰✨ Jornalista, editora do jornal Cooperabaeté desde setembro de 1998. 🗞️🖊️

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