Mastite Que Não Cura: O Que Pode Estar Acontecendo?

Certamente, você que é produtor já teve esta experiência ou conhece alguém que teve casos de mastite que não curaram na fazenda. Mas em que situações isto acontece? Bom, estamos nos referindo a casos de animais que apresentam resultado negativo na cultura microbiológica e que continuam com mastite clínica, mesmo após tratamento com antibióticos. Algumas razões podem explicar esta situação.  Hoje, vamos destacar o problema da mastite causada por algas como, por exemplo, Prototheca spp., e entre elas, P. zopfii.

Para compreender o problema, é preciso entender algumas características da Prototheca e da mastite causada por ela:

• o patógeno é encontrado no esterco, no solo, na água, no material de cama, em rações e em currais;

• vacas infectadas também podem servir como reservatórios de infecção para outras vacas e aquelas infectadas geralmente evoluem para casos crônicos. Assim, Prototheca é considerado um patógeno ambiental e contagioso;

• como algas, Prototheca spp. não respondem ao tratamento com antibióticos;

• Prototheca pode existir em um rebanho como mastite subclínica (sem sintomas aparentes) ou como mastite clínica, apresentando alterações visíveis como “leite aguado”;

• as infecções crônicas diminuem a produção de leite à medida que o microrganismo continua danificando o úbere, aumentando, assim, a contagem de células somáticas (CCS) do leite;

• a transmissão ocorre pela entrada da alga na extremidade do teto, uma vez que Prototheca spp. são comumente encontradas no ambiente, podendo ocorrer, ainda, a transmissão de vaca para vaca, o que é uma preocupação constante;

Os fatores de risco a serem considerados incluem:

• acesso das vacas a áreas como açudes, brejos, lagoas, etc., nas fazendas;

• épocas de temperaturas elevadas e chuvas fortes;

• cama de areia reciclada e contaminada;

• práticas de higiene de ordenha e de ambiente deficientes;

• uso de bisnagas por via intramamária sem desinfecção prévia da extremidade dos tetos;

• transmissão de vaca para vaca na sala de ordenha.

• Em relação ao diagnóstico, e como Prototheca cresce muito lentamente em placas de cultura microbiológica tradicional, a cultura pode fornecer resultados falso-negativos.

Como pode ser observado, a mastite causada por Prototheca é uma condição desafiadora devido à natureza desse microrganismo. Ao contrário de bactérias, Prototheca spp. geralmente não são isoladas em culturas microbiológicas tradicionais realizadas em fazendas e mesmo em laboratórios, tornando o diagnóstico e tratamento mais complicados. Além disso, esse agente patogênico não responde aos antibióticos, o que agrava ainda mais o problema.

Devido ao impacto econômico que um resultado positivo ou falso-negativo para Prototheca pode ter na atividade leiteira, é importante que, nos casos de mastite clínica reincidente em que não há cura, outras ferramentas de diagnóstico como, por exemplo, PCR sejam usadas. Isso permite que os produtores segreguem mais rapidamente as vacas infectadas do rebanho e descartem os animais quando necessário, uma vez que não existem tratamentos eficazes ou aprovados disponíveis para a mastite por Prototheca.

A reincidência da mastite no animal submetido a tratamento com antibiótico é uma preocupação significativa. Como o microrganismo causador não é eliminado pelo tratamento com antibiótico, a infecção pode persistir e ressurgir repetidamente. Isso não apenas causa desconforto para o animal afetado, mas também pode levar a complicações adicionais, como danos permanentes ao tecido mamário e redução expressiva na produção de leite.

Em resumo, a mastite causada por Prototheca representa um desafio clínico significativo pelo fato deste patógeno não responder aos tratamentos com antibióticos, pela dificuldade de diagnóstico e pela alta taxa de reincidência. O desenvolvimento de estratégias de tratamento mais eficazes e métodos de diagnóstico mais sensíveis é crucial para melhorar o manejo e a prevenção dessa condição em rebanhos leiteiros.

Fique atento produtor! Casos de mastite em que não há crescimento  nas culturas microbiológicas, que não respondem aos antibióticos e que são reincidentes merecem uma atenção especial, porque podem ter relação com algas como Prototheca. Nestes casos, a mastite pode se
disseminar silenciosamente no rebanho e causar grandes prejuízos.

Com isto, a única solução é a revisão do manejo e o descarte do animal! Mais uma vez, o monitoramento é imprescindível, e só controla quem monitora!!!!!

 

Autor:
Professora Titular da Escola de Veterinária da UFMG. Parceira da CCPR no Programa Tudo Nos Conformes.

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